terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A alegria no dia-a-dia

Um assunto “muito sério”: alegria e bom humor.

Depois do barulho, da festa e dos encontros natalinos, voltamos à vida normal, com seus horários, obrigações e afazeres. Para o homem e a mulher que vivem submersos no niilismo da cultura atual, a volta à rotina provoca horror, estresse e muitas hipocondrias. Esse fenômeno revela a enfermidade do nosso tempo: a solidão da pessoa e a cegueira existencial que impede a apreciação da beleza da vida diária.
O descanso nos é pedido pelo Criador (cf. Gn 2, 1-3). A festa é expressão, privilegiada, da necessidade que o ser humano tem da alegria para uma existência bem vivida. Ao mesmo tempo, ela tem que ser um estímulo para encararmos com energia renovada cada nova semana e cada período pós-férias.
O insuportável do viver de cada dia vem da carência de alegria nas coisas que fazemos, experimentamos ou vivemos. Isto acontece, entre outros motivos, por causa da falta de realismo na nossa visão de vida pessoal, social e profissional, ou, simplesmente, porque nos sobra irritação, coisa que deteriora o clima familiar e geral.
Vamos começar este inquietante 2013 com o firme propósito de redescobrir a beleza e a alegria da nossa rotina? Eu proponho o remédio do bom humor, da gentileza e da compreensão. Quantos problemas se solucionariam se evitássemos os maus modos e exercitássemos o apostolado do sorriso!
O humor tem sido objeto de estudo desde a filosofia antiga, passando pela teologia, até a psicologia moderna. Não faltam exemplos de santos, como Felipe Neri e João Bosco, que fizeram do regozijo e do júbilo os veículos da sua pastoral e do seu contato com os outros.
Podemos falar do humor de muitos pontos de vista. Para alguns, ele é um dispositivo de liberação de tensões. Para outros, a reação espontânea diante de uma situação cômica. Há quem o experimente como consequência da incongruência entre diversas ideias ou situações desiguais. Mas todas essas teorias fazem do humor algo que vem de fora, como um componente psicológico que define certo comportamento. As brincadeiras e as piadas fazem parte de jogadas entre o cômico e o irônico. É evidente que nem tudo o que é humorístico termina em risadas; há risos que não nascem do humor, mas de um mecanismo de defesa.
Eu quero me referir ao humor não como atitude jocosa, mas como “coisa séria”, como pretensão de sentido, de delicadeza e de humanidade. O bom humor é a capacidade de carregar serena e valentemente as cargas da vida. É saber achar em cada instante o lado amável da cotidianidade. Isso é muito importante para a maturidade pessoal e para a vida de fé. A este respeito, Xavier Zubiri dizia que a pessoa tem que “esculpir a sua própria estátua”. Isto pode se realizar de diversas formas: sendo-se muito estrito em tudo e vivendo-se de mau humor, de angústia, de sofrimento; outra maneira é empenhar-se no voluntarismo que endurece o coração e o caráter; mas há uma terceira via, que é a integração e a superação das dificuldades da vida, e é nisto que se baseia o segredo do bom temperamento. Sem ele, a pessoa fica propensa às enfermidades da alma, que, com tanta frequência, atacam a nossa sociedade.
O bom humor nos faz ver a realidade do dia-a-dia com um sereno distanciamento. É a atitude de colocar as coisas no seu lugar, de relativizar o que achávamos absoluto, de nos livrarmos dos falsos ídolos, de rir das nossas próprias conquistas e de nós mesmos. Para isso, é preciso ter muita simplicidade e humildade de espírito. Só é alegre –e não simplesmente contente- quem reconhece a sua finitude, se abre para os outros e não fica encerrado na autossuficiência.
O humor é também a capacidade de compreender o ponto de vista do outro e, ao mesmo tempo, de ter criatividade diante dos choques inevitáveis: é saber sair de situações difíceis. Isto impede o ressentimento e o isolamento, através de atitudes como medir as palavras, controlar os silêncios, possuir elementos positivos no próprio interior e comandar as rédeas de si mesmo.
Destaco, para terminar, que o bom caráter implica a afirmação da liberdade pessoal, a negação de determinismos cegos e a admissão de um sentido profundo da vida. No caso cristão, tudo isto surge da fé em um Deus que é Amor, que nos deu a salvação eterna em seu Filho e que nos sustenta com a ajuda do Espírito Santo. Deus não é uma alternativa que exclui o bom humor! Como diz Bento XVI, “Deus não estorva a nossa vida cotidiana” (A infância de Jesus, p. 109).

*Dom Juan del Río Martín, arcebispo castrense da Espanha

Fonte: Zenit.org

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